Como as grandes redes de hipermercados cresceram no Brasil: estratégias que inspiram o varejo nacional

O crescimento das grandes redes de hipermercados e atacarejos no Brasil é um fenômeno que combina estratégia, execução e inteligência de mercado.
Este artigo reúne as práticas adotadas por quatro das principais empresas do setor — Assaí, Supermercados BH, Grupo Mateus e Grupo Muffato —, destacando os pontos em comum que explicam o sucesso dessas gigantes. 

A análise foi construída com base em fontes públicas e estudos de mercado, buscando identificar os fatores críticos de crescimento, as estratégias de expansão e os aprendizados que podem ser aplicados por outros negócios do varejo. 

  1. Assaí Atacadista: crescimento em camadas e foco na eficiência

O Assaí cresceu de forma acelerada com uma estratégia multicanal e foco em rentabilidade operacional.
Apesar de apresentar uma dívida líquida de R$ 11,7 bilhões, a empresa tem reduzido sua alavancagem (3,16x) graças ao forte lucro e ao controle de despesas. 

Faturamento: R$ 45,5 bilhões (2021) → R$ 80,6 bilhões (2024)
Investimentos: R$ 16,6 bilhões
Captação: R$ 6,6 bilhões em debêntures e mercado de capitais 

O Assaí encerrou o primeiro trimestre de 2025 com 300 lojas e um modelo de crescimento “em camadas”: 

Expansão rápida com foco em escala e presença de mercado. 

Geração de caixa para financiar novas aquisições (como a compra da rede Extra Hiper). 

Agregação de serviços (açougues, empórios e padarias) para aumentar o ticket médio. 

Transformação digital, com integração de canais físicos e digitais (entenda mais sobre o modelo phygital e o impacto da digitalização nas empresas). 

Execução 

O CEO atribui o sucesso ao controle rígido de despesas e à eficiência logística, o que permite manter preços competitivos e atender tanto o público B2C quanto o B2B.
Pesquisas da UFSC mostram que as conversões de lojas adquiridas foram estrategicamente localizadas, garantindo retorno acelerado sobre o investimento. 

Lição do Assaí:
Crescer com base em escala, eficiência e fidelização, mantendo um modelo operacional enxuto e tecnologia integrada para otimizar margens — pilares de uma gestão empresarial eficiente. 

  1. Supermercados BH: expansão com foco nas classes C e D

A Rede BH expandiu por meio de aquisições estratégicas, como a compra da Rede Bretas, e alcançou 300 lojas, consolidando-se como um dos maiores grupos do país. 

Faturamento: R$ 1,5 bilhão (2010) → R$ 21,3 bilhões (2024)
Investimentos: Parceria com Banco Safra para crédito corporativo 

A companhia apostou em inteligência de dados e digitalização da jornada do cliente.
Com a integração entre o ERP e aplicativos de relacionamento, a rede passou a identificar padrões de consumo e oferecer promoções personalizadas. 

Esse modelo de hiper segmentação gerou fidelização e aumentou o ticket médio, especialmente entre as classes C e D, público central da marca. 

Lição do Supermercado BH:
Investir em Business Intelligence e gestão de dados permite personalizar a experiência do consumidor e sustentar margens mesmo em mercados sensíveis a preço. 

  1. Grupo Mateus: regionalização com eficiência logística

O Grupo Mateus apostou em crescimento regional no Nordeste, utilizando capital próprio, alta eficiência logística e diversificação em negócios complementares. 

Faturamento: R$ 14,4 bilhões (2020) → R$ 36,4 bilhões (2024)
Alavancagem: R$ 614 milhões (0,27x Dívida Líquida/EBITDA)
IPO: R$ 4,6 bilhões captados em 2020 

A expansão começou em cidades com mais de 50 mil habitantes, priorizando mercados locais em crescimento.
A estratégia ocorre em fases: 

Primeira entrada com atacado puro (centros de distribuição e representantes). 

Posterior abertura de atacarejos que atendem pequenos comerciantes e consumidores finais. 

O grupo mantém baixo endividamento e um modelo de gestão regionalizado: cada unidade possui metas próprias e autonomia administrativa.
Além disso, investe fortemente na formação de lideranças locais — profissionais promovidos de dentro da empresa, que fortalecem a cultura e reduzem turnover. 

Lição do Grupo Mateus:
Crescer de forma sustentável requer estrutura logística eficiente, lideranças regionais capacitadas e cultura organizacional forte que conecte propósito e resultado. 

  1. Grupo Muffato: expansão inteligente e verticalização

O Grupo Muffato expandiu de maneira estruturada, evitando riscos trabalhistas e apostando em diversificação operacional. 

Faturamento: R$ 10,6 bilhões (2021) → R$ 17,4 bilhões (2024)
Investimentos: R$ 170 milhões no centro de processamento em Cambé e R$ 184 milhões no galpão logístico (2025)
Aquisições: 16 lojas e 11 postos de combustíveis do Grupo Makro 

A empresa utilizou securitização de fundos imobiliários, alienação de imóveis e garantias dos sócios para levantar capital.
As unidades adquiridas estão localizadas em cidades estratégicas do estado de São Paulo, garantindo alto volume de fluxo e retorno. 

Com mais de 105 lojas, o Muffato tem apostado em verticalização: 

O Muffato Foods centraliza o processamento de alimentos e fortalece o e-commerce. 

A construção da maior usina solar em telhado do Brasil reduziu custos energéticos e reforçou a imagem de sustentabilidade. 

Lição do Grupo Muffato:
A modernização operacional e a sustentabilidade são vetores de eficiência e imagem de marca, elementos fundamentais de uma governança empresarial sólida.

O que essas redes têm em comum: padrões de sucesso?

Apesar das diferenças regionais, os casos analisados revelam um conjunto de estratégias replicáveis: 

Expansão com inteligência 

Crescimento via aquisições e novas construções, equilibrando risco e retorno. 

Entrada rápida em operação após novas inaugurações para gerar fluxo de caixa imediato. 

Gestão de pessoas e cultura  

Treinamento intensivo, planos de sucessão e lideranças regionais. 

A transferência de líderes experientes para novas unidades garante performance desde o primeiro mês. 

Investimento em PCCS (Plano de Cargos, Carreiras e Salários) e programas de desenvolvimento de pessoas. 

Eficiência operacional e tecnologia 

Integração entre ERP, BI e aplicativos de relacionamento. 

Uso de indicadores de performance (KPIs) por setor e por unidade. 

Digitalização da operação para melhorar previsibilidade e reduzir desperdícios. 

Governança e capital 

Uso responsável da alavancagem financeira. 

Parcerias com instituições bancárias e captações estruturadas via mercado de capitais. 

Expansão sempre acompanhada de planejamento estratégico e governança corporativa. 

Crescer exige estratégia, disciplina e execução 

O crescimento das grandes redes de hipermercados no Brasil não é fruto apenas de investimento.
É resultado de gestão estratégica, eficiência operacional e cultura organizacional sólida. 

Essas empresas provaram que é possível crescer com velocidade sem perder rentabilidade, desde que cada decisão seja amparada por dados, governança e pessoas bem-preparadas. 

A lição final é clara:
Para crescer, é preciso planejar como as grandes, executar com disciplina e aprender com os dados. 

Escrito por Jonathan Correa – Consultoria Empresarial da Funcional